quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Fontes Primárias em Discussão”, de Edson Campos e Maria Zilda Cury,

Muito tem se teorizado, e mais ainda se escrito, em textos acadêmicos acerca do trabalho com fontes primárias e com arquivos. Nos dizeres de Fausto Colombo, haveria uma obsessão da memória (1991, p. 17), em nossa era. Quais as razões para tal atenção às fontes documentais? E, principalmente, qual a diferença entre os estudos contemporâneos e os do passado acerca das fontes primárias? Estas são algumas indagações de “Fontes Primárias em Discussão”, de Edson Campos e Maria Zilda Cury, um texto referência para aqueles que desejam pensar a relevância de tais estudos. Campos e Cury (doravante C&C) fazem parte de um movimento de reflexão acerca da epistemologia contemporânea, ou seja, da relação entre o conhecimento e o mundo. Constituidos e constituidores de uma epistemologia que coloca sob-razura sentido hodiernos, a exemplo do sentido das fontes primárias, bem como do termo “fonte”. Em tal releitura da tradição do pensamento, efetivam um movimento em que questionam a origem primeira, a que o termo fonte aludiria e, mais do que isso e por isso, apresentam fontes primárias como um espaço de reflexão, ponto relacional. E não mais vendo-as como matriz explicativa e auto-suficiente, ponto primacial , ou seja, determinantes exclusivas do conhecimento (p.54). As fontes primárias, no sentido de ponto primacial, para C&C, destacariam que a antiga crítica das fontes se preocupa em revelar rascunho como a origem daquele texto digno de finalmente merecer o olhar do leitor (p.54). Nesta perspectiva tanto o rascunho quanto o texto publicado fariam referência a um ponto fixo, a um passado congelado, já pronto para todo o sempre (p. 55). Já o estudo das fontes em seu sentido relacional possibilitaria uma outra forma de conceber o pensamento e o mundo, pois permitiria que não se congelem as [...]efetivas possibilidades de construção de um saber em movimento (p. 54). Isto, principalmente, por haveria uma leitura que consideraria a relação de interdependência entre a fonte primária e o texto publicado. No estudo de tais fontes, confrontadas com o texto “final”, haveria a possibilidade de explicar o processo de construção de uma obra, alterando ou mudando significados que as fontes apresentam (p.55), até mesmo possibilitando a transformação dialógica das significações consagradas (p.55). O saber passaria, então, a ser compreendido como em construção, produzido em relação e em um cruzamento de práticas de significação diferenciadas. O texto publicado deixa, então, de ser visto como algo pronto e acabado, passando a ser lido como parte um processo. Com esta perspectiva, que proporciona a releitura em uma dimensão desconstrutora dos objetos de investigação e pesquisa, Campos e Cury questionam o saber encarado como acúmulo enciclopédico, bem como a noção de que alguém seria detentor desse saber. Tal perspectiva possibilita, como uma de suas possíveis conseqüências, uma revisão não apenas do corpus, mas, também, dos próprios instrumentos metodológicos de investigação e de pesquisa.
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CAMPOS, Edson Nascimento, CURY, Maria Zilda. Fontes Primárias em Discussão. In: Vertentes, n. 15. São João del-Rei, Minas Gerais: FUNREI (Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei, jan/jun. 2000, p. 53-60.

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