quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Na introdução de seu livro Insiders and Outsiders, de 1994, Michael HARRIS realiza uma diferenciação entre dois tipos de autores da literatura colonial e pós-colonial. Os “Outsiders” foram escritores que representaram as colônias de uma perspectiva da época da colonização ou imediatamente após. Já os “Insiders” são os autores que escrevem como ex-colonizados e apontam as limitações da ficção inglesa.

Harris apresenta uma visão histórica da expansão imperial inglesa, no início um empreendimento aventureiro e com o posterior estabelecimento de distintas estruturas imperiais. Relata como a noção de superioridade administrativa e de civilização imperial inglesa, seja racial ou étnica, apresentou-se como justificativa para a administração de um tão amplo império. Essa posição de superioridade possibilitou aos imperialistas se colocarem como libertadores dos povos conquistados.

Nos países dominados estabeleceram-se instituições que educaram uma classe média nativa emergente que passou a questionar sua falta de poder real. Contudo, o império conseguiu sucesso em manter o seu domínio por um longo tempo devido à criação de regras e ao uso de estratégias de segregação por classe, religião e etnia, que mantiveram os diversos grupos divididos. Um dos motivos que mais contribuíram para a dissolução do império britânico foi o desenvolvimento das comunicações. Isso possibilitou a interação entre os grupos que lutavam pela libertação.

As duas grandes guerras foram outra influência, pois mudaram as relações entre colonizados e colonizadores, porque colonizados passaram a ver dominadores como iguais e não como possuidores de moral ou civilização superior. As formas de transição da situação de colônia para a de país livre foram as mais diversas e as influências e instituições imperiais mantiveram-se após o domínio físico e mantêm-se ainda hoje em muitas ex-colônias. Isso representa como a identidade cultural desses povos fraturou-se com o encontro colonial.

Harris destaca o surgimento de uma literatura escrita em inglês por autores nativos das ex-colônias como um notável produto da descolonização. Principalmente a adaptação do gênero romanesco como forma de relatar as experiências dos ex-colonizados a partir do seu próprio ponto de vista, “insider”, com sua própria voz. Essa literatura é alternativamente chamada de literatura pós-colonial, “commonwealth” ou do terceiro mundo. Nela o autor coloca em questão a forma como os primeiros escritores retrataram a colônia, com a freqüente reconstrução da história colonial e a crítica das representações literárias. Com isso, criam uma visão alternativa da literatura e da cultura. Nem todos os escritores pós-coloniais seguem o mesmo padrão, ou seja, alguns não recriam, nem respondem as representações da época colonial e vão ao ponto de criticar a busca de uma nacionalidade unificada. Há um terceiro grupo de escritores que parecem se colocar como participantes da tradição literária colonial britânica, ainda que protestem contra os problemas advindos da influência imperial.

Continua...

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HARRIS, Michael. Insiders and Outsiders: perspectives of third world culture in British and post-colonial fiction. New York: Peter Lang, 1994.

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